Convertedores do plástico são grandes agentes de transformação quando o assunto é reciclagem mecânica.
Sua empresa está definindo a estratégia comercial para o próximo ano, mas alguém, que está em frente a uma gôndola de supermercado, é a chave para que você tenha êxito.
Por mais que não pareça, a influência do consumidor no seu plano comercial é imensa e a conexão do seu negócio com a reciclagem pode ser decisiva para ajudar o seu cliente a conquistar mais espaço.
Uma grande demanda tem surgido no mercado de embalagens, impactando todo o setor. Mais do que a diferenciação em produtos, as marcas de alimentos, cosméticos, itens de limpeza, entre outras, têm sido impactadas pelo comportamento do consumidor que, por sua vez, tem considerado, gradativamente, o impacto social e ambiental das empresas no momento da compra e fidelização.
Antigamente, as embalagens demandavam estruturas com diferentes materiais para chegar nas propriedades exigidas, mas com a evolução da matéria-prima, isso tem mudado. A Feira K Show, líder da indústria da borracha e material sintético, sempre traz novidades em relação ao que está por vir e noticia desenvolvimentos capazes de mudar os rumos da cadeia do plástico. Na edição de 2019, a procura por alternativas biodegradáveis se destacou, segundo o Iván Navarro, Gerente de Produto da startup ADBioplastics em entrevista para o site do evento.
Na cadeia de embalagens plásticas, ações relacionadas à reciclagem mecânica têm sido cada vez mais um caminho para trabalhar a prática. A Coca-Cola, por exemplo, aposta no reaproveitamento por completo de resíduos plásticos desde 2018, quando anunciou uma nova política com o objetivo de recolher 100% de todas as embalagens que comercializará até 2030, com um investimento de R$ 1, 6 bilhão e previsão de parcerias com os concorrentes, governos, ONGs e clientes por meio de ações como capacitação de catadores de materiais recicláveis, incentivo ao uso da embalagem retornável, além de outras iniciativas que a própria marca descreve: “a empresa está investindo em infraestrutura, entre ampliação de linhas de retornáveis, equipamentos de fábrica, compra de vasilhames e engajamento do consumidor”.
O exemplo da Coca também nos mostra como o ambiente digital vem influenciando o relacionamento entre empresas e consumidor, a transparência dos processos tornou-se cada vez mais acessível, por isso não basta a empresa trabalhar ações sociais isoladas no final da linha de produção. As indústrias precisam assegurar-se de que toda a cadeia esteja operando em sintonia com o modelo circular para alcançar o máximo de resultados. Começando pela concepção de uma embalagem, é preciso considerar a reciclagem como uma etapa regular da jornada do plástico. Os convertedores são protagonistas na efetivação dessa estratégia e o mercado mostra que há muitos benefícios decorrentes da reciclagem e muitas oportunidades a serem exploradas.
Resumindo, atuar de maneira isolada não resolve a questão e nem promove progressos. É necessário agir de forma sistêmica para que os avanços ocorram e, assim, todos os elos da cadeia sejam capazes de atingir resultados mais expressivos.
Quando o assunto é impacto ambiental, uma pesquisa da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (ABIPLAST) mostra que a cada 1 tonelada de material reciclado produzido, evita-se usar 450 litros de água na produção, há economia média de 75% de energia, redução de 1,1 tonelada, em média, de resíduo plástico depositado nos aterros e contribuição para diminuir a emissão de Gases de Efeito Estufa. Ou seja, uma longa cadeia é favorecida com o direcionamento correto desses resíduos e o mesmo vale para o reaproveitamento deles após o uso.
No caso do plástico, a reciclagem mecânica vem se mostrando uma maneira eficaz de ressignificar o que seria descartado, garantir valor ao subproduto, além de imprimir uma marca importante à reputação das empresas, uma vez que cuidar do legado é um pilar essencial na condução dos negócios e evolui para se transformar em algo cada vez mais intrínseco às operações.
Confira no vídeo como funciona a cadeia da reciclagem do plástico:
Os números revelam avanços significativos nessa movimentação, mas o relatório encomendado pelo Plano de Incentivo à Cadeia do Plástico à ABIPLAST também evidencia que ainda existe muito espaço para o desenvolvimento da cadeia, uma vez que 159 mil toneladas de resíduos plásticos se perdem no processo de reciclagem por conta da contaminação aqui no Brasil. Mas o que fazer para preencher as lacunas? E em quem se apoiar para suprir as necessidades que o mercado demanda? Essas são questões que ainda não têm respostas definitivas, embora algumas rotas percorridas por grandes empresas possam servir de guia.
Reciclagem
e seus possíveis ganhos
Mais do que integrar a teoria, reciclar também precisa, na prática, gerar lucro para as companhias. Conforme reportagem da CNN Brasil, veiculada em agosto de 2020, que obteve dados exclusivos da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o Brasil perde R$ 14 bilhões por ano com a falta de reciclagem adequada do lixo. Isso deixa claro que, além de espaço para inovação, há oportunidade de lucro com ganhos altos.
Quem também demonstra que as cifras podem ser elevadas é o relatório Americas Recycled Plastics Market Size, Share & COVID-19 Impact Analysis, By Type (Polyethylene Terephthalate, High-Density Polyethylene, Polypropylene, Low-Density Polyethylene, and Others), Application (Packaging [Non-Food Packaging and Food Packaging], Construction, Automotive, and Others), and Country Forecast, 2020-2027”, elaborado pela Fortune Business Insights™.
A previsão é de que “o tamanho do mercado de plásticos reciclados das Américas está projetado para atingir US$ 6.330,00 milhões até 2027. E a alta geração de resíduos plásticos nos Estados Unidos e no Brasil será o principal fator de fomento desse mercado nos próximos anos”.
O modelo de negócio e seus desafios
Embora a teoria esteja clara, no dia a dia a prática ainda precisa enfrentar alguns desafios para aproveitar as oportunidades que o método pode proporcionar. Uma pesquisa da Fundação Ellen MacArthur, que compila resultados de 2017, é uma das mais completas sobre o tema e mostra o cenário global.
A listagem continua e menciona que a cadeia depende de parceiros pequenos, que há necessidade de maior cooperação entre as partes, e é preciso ampliar o acesso a conhecimento sobre polímeros e questões ligadas à contaminação.
Países desenvolvidos e em desenvolvimento se deparam com essas mesmas questões, mas em intensidades diferentes, ainda mais quando não se têm políticas públicas eficientes. Aqui, no Brasil, existe a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que completou dez anos em 2020, e ainda não assumiu papel efetivo na implementação de diretrizes e normas. E, embora esteja ocorrendo progresso no país em relação à reciclagem pós-consumo, o segmento ainda depende muito do setor privado para que novos modelos possam ser adotados a partir do momento em que são capazes de atingir positivamente todos que fazem parte da cadeia.
A União Europeia está à frente em termos de diretrizes e pode servir de exemplo para os demais com a Circular Plastics Alliance, inciativa que une agentes do setor público e privado, e tem uma missão ambiciosa: impulsionar o mercado para plásticos reciclados, até 2025, em 10 milhões de toneladas. Trata-se de uma forma de consolidar as medidas necessárias para atingir essa meta, que pode ser adotada e adaptada por outras nações.
A inovação no setor também é um vetor de transformação e startups são destaques nesse ponto, como é o caso da Boomera que, em parceria com a Dow, desenvolveu em 2020 uma nova resina plástica feita de material reciclado pós-consumo.
Outro exemplo é a Unilever que, em 2017, assumiu o compromisso de que, até 2025, todas as suas embalagens plásticas serão reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis e 25% delas irão ser originadas de plástico reciclado. E essa mesma porcentagem também servirá de meta para a presença de resina reciclada nas embalagens.
Estabelecer objetivos possíveis, como aliar-se a pequenos e importantes agentes do setor, investir em recursos inovadores e entender de que maneira equilibrar os elementos da equação para um negócio saudável despontam como possíveis soluções quando o assunto é colocar valor no que é gerado pela reciclagem mecânica do plástico.
Mas adotar medidas simples podem ser um caminho inicial para lidar com o assunto e entender mais a respeito, como:
Conectar-se ao tema
por meio de porta-vozes e instituições que são referência no segmento. Essa é uma ótima maneira de seguir tendências, manter-se atualizado sobre o que grandes líderes pensam a respeito do assunto, acompanhar como conduzem a reciclagem mecânica nas empresas, e o impacto que isso causa nos negócios e na comunidade:
Gui Brammer
CEO da Boomera. Recebeu o título de Empreendedor Social de 2020 da Fundação Schwab no Fórum Econômico Mundial, que reconhece aqueles que de alguma forma realizaram um impacto social e ambiental significativo a serviço de comunidades vulneráveis e excluídas que foram bastante afetados pela pandemia do Covid-19.
Usina de Reciclagem de Dois Irmãos
Referência no país em gerenciamento de lixo, a Usina dois Irmãos realiza coleta há mais de 25 anos. Localizada em Recife, Pernambuco, recolhe cerca de 17 mil toneladas de resíduos por dia e destina entre 23% e 25% para a reciclagem.
Promover discussões acerca do assunto
para estimular a troca de experiências, o que é extremamente importante em um ambiente de inovação. Sobre reciclagem mecânica, alguns sites são ótimas fontes:
ABIPLAST
A Associação Brasileira da Indústria do Plástico (ABIPLAST) atua há mais de cinco décadas no setor como um dos agentes mais importantes do segmento de transformados plásticos da reciclagem.
ABRELPE
Associação pioneira nas atividades de coleta, transporte e manuseio de resíduos sólidos